Ilustradora: Sabrina Gevaerd
São 21:00 da noite e eu pego um dos 3 livros que estou lendo ao mesmo tempo para ler. Desenvolvi esse hábito em algum tempo longínquo da minha não longa vida de 31 anos, não me recordo exatamente quando foi. Leio mais um capítulo, às vezes dois ou mais dentro de um prazo de 01 hora. Tenho apego a comportamentos metódicos e rituais, mas faço isso também porque me ajuda a lidar com a insônia. Ter um ritual diário e cronometrado me ajuda a conseguir dormir.
Às vezes passo das 22:00, principalmente quando gosto muito do livro. Fiz isso com Duna do Frank Herbert, li 200 páginas em 1 dia e meio. Depois de cansar dos Astreides e dos Harkonnen, deixei de lado e decidi que ia dar atenção a outro livro.
Nesse meio tempo ligo a televisão e está passando um Jornal, geralmente com notícias de tragédias ou problemas econômicos e políticos, praticamente o resumo de como é viver no Brasil em pleno ano de 2021. Olho o celular, vejo se tenho novos e-mails, às vezes, bem às vezes mesmo, olho o Linkedin e vejo se tem algo interessante – na maioria das vezes não tem.
Decidi há uns anos não ter mais algumas redes sociais, os motivos foram dois: (i) como uma pessoa metódica e pragmática calculei o tempo que eu gastava por dia numa rede rede social através de um app e, descobri que era mais de 01 hora, e a verdade é que eu prefiro (e preciso) usar essa hora pra fazer outra coisa na minha vida, já que tempo para mim é algo extremamente escasso; e (ii) cheguei a conclusão que elas me faziam mal psicologicamente, muito antes de começarem a sair na mídia notícias sobre esse tema.
Sentia que meu cérebro não conseguia acompanhar as mil notícias dos perfis de jornais, as novas músicas que saíam, as novas fofocas que aconteciam, as viagens e comidas feitas pelos meus amigos. Simplesmente não dava, e eu sentia que estava perdendo algo por não conseguir acompanhar as informações, como o Fear of Missing Out (FOMO). Por isso saí e não pretendo voltar, só voltaria se contratasse alguém para administrar uma conta profissional para mim, o que não está nos meus planos por ora.
A verdade é que mesmo sem as redes sociais, meu cérebro parece que ficou viciado em informação. Então, transferi o vício para os livros, para escrever artigos e para ler jornais – o que eu faço metodicamente todos os dias de manhã, comendo uma fruta e tomando uma xícara de café.
Estamos tão viciados em informação e, nunca houve na história do mundo tanta informação disponível, tanto que eu sinto que meu cérebro não suporta mais nem um Bom dia no elevador.
Isso porque ainda não mencionei os 300 artigos que eu tive que ler para o doutorado – e pequeno detalhe, escrever minha tese também – as 9 disciplinas que precisei fazer, junto com suas fichas semanais de reação, seminários e artigos ou monografias ao final delas. Penso graças a Deus estou sobrevivendo, porque ainda faltam 03 anos para terminar.
A verdade é que meu cérebro se tornou em algum momento da minha história terrena, viciado em informação. E com certeza a pesquisa acadêmica somada a outras atividades deu um upgrade nisso, já que eu tinha que fichar 3 a 4 artigos por semana, o que dava umas 150 fls. de leitura semanal em média. Fora as mil e outras coisas que eu precisava ler, analisar, revisar e elaborar nas minhas demais atividades profissionais.
Portanto, convenhamos tanto excesso de informação não é saudável. É impossível ler e acompanhar tudo o que acontece no mundo e, falando especificamente do campo em que eu trabalho, é impossível acompanhar tudo o que é publicado, debatido, todas as milhões de lives, palestras de proteção de dados, etc. Simplesmente não dá. É exaustivo, e sinto que todos, assumindo isso para si mesmos ou não, estamos exaustos.
O que fazer? Algo que tenho me permitido fazer é ter momentos de contemplação e de abraçar ao tédio. O tédio, como o Byung-Chul Han menciona no livro Sociedade paliativa, a dor hoje parece ser algo que a sociedade do desempenho pretende eliminar, assim como a dor, é algo a ser dopado ou ocultado. Visto como algo totalmente negativo. Só que o tédio é importante para que justamente o nosso cérebro descanse, para que ele possa contemplar e estar no presente, percebendo o que está ao nosso redor. Sentindo e experimentando todas as sensações.
O que me incomoda nesse excesso de informação é o quanto perdemos da nossa capacidade criativa, porque para criar precisamos sair da automação, do sistema nervoso simpático e trabalhar o sistema nervoso parassimpático, que é o nosso lado lúdico e criativo. Que não tem linhas retas ou cortes perfeitos. O Excesso me fez perceber o quanto hoje eu prefiro abraçar aquele pedaço de papel de apenas 1 capítulo e, após terminar de lê-lo me perder na imensidão daquelas palavras, no tédio de ver a vida passando pela janela da minha casa e com isso me sentir totalmente completa.